Anos 1970
Retratos e iconografias
Em 1970, Wesley começa a realizar retratos de amigos e parentes. Porém, não se encerra aí, incluindo alguns elementos naturais, plantas e vasos. Da mistura de retratos com esses elementos surge a série Iconografia Botânica.
O seu primeiro livro como artista, “O caderno que respira”, de 1970, expressa a mesma ideia de retomar a infância como fio introdutor aos processos de aprofundamento na psique.
A tendência de incorporar materiais naturais nas obras foi predominante na década de 1970. Às voltas com a ecologia e o conceitualismo, artistas como Wesley Duke Lee e Hélio Oiticica exploraram as formas botânicas e elementos da natureza, assim como os artistas portugueses Clara Menéres, Graça Pereira Coutinho e Zulmiro de Carvalho.
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objeto com desenho e prancheta em caixa de vidro com planta viva, 145 x 125 x 60 cm
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arte ambiental liquitex s/ tela e planta viva, 192 x 192 cm
Mitologias: O/Limpo e Minha Viagem à Grécia no Helicóptero de Leonardo da Vinci
A mitologia sempre exerceu um grande fascínio sobre o Wesley. Não é por acaso que narrativas históricas, reais (os Templários) ou imaginárias, sempre povoaram a sua imaginação e, consequentemente, a sua obra. Pensando na morada dos deuses gregos, o Monte Olimpo, Wesley projeta uma instalação-labirinto, onde cada divindade tem o seu propósito e significado, e no centro há uma figura: um sujeito fragmentado, talvez ele mesmo.
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Estavam previstas 21 pinturas, retratos de amigos e familiares, “entes dos redutos da alma”. Cada pessoa se identifica com uma divindade. Entre 1971 e 1972 foram pintadas 15 telas. Dedicou-se à gravura nos anos subsequentes, as telas e estruturas permaneceram no atelier por 20 anos. Foram resgatadas para uma exposição retrospetiva no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, onde foi apresentada como obra inacabada. Anima é a estrutura central, a confluência do Olimpo. O próprio artista diz1, na década de 1980:
Em O/Limpo, vê-se um Wesley recorrendo à mitologia grega. Agora, em Minha viagem à Grécia no helicóptero de Leonardo da Vinci, há um Wesley que procura contar a sua história utilizando-se das estátuas gregas. Entre desenhos e fotografias, Wesley sobrevoa a sua alma, utilizando lápis de cor, aquarela, pastel e colagens. Composta por 36 desenhos, a série termina com um, intitulado Retorno à base d’y Saint Amer (1977). O artista retorna àquilo que nunca deixou de ser: um cavaleiro templário que viaja pelo mundo, sempre buscando a si mesmo.
As Sombra Ações e O macaco
Em 1976, Wesley expõe na Galeria Luisa Strina a série de obras As Sombra Ações. Expandindo a mitologia da série O/Limpo, o artista se liga à figura de Hades e explora a dualidade das sombras e das cores, em obras que carregam uma dramaticidade explosiva pulsante, como se vê nas obras A explosão e Salut à l’amitié, por exemplo. As sombras são dimensões diversas, alter egos e metáforas que constroem um mundo pictórico, em que cada tela faz parte de uma narrativa maior, cara ao artista e à sua mitologia pessoal.
Em 1977, além de retomar a escrita na série Caligrafia, ideogramas, etc., Wesley produz a obra O um (o macaco). A obra fez parte, em 1985, da exposição especial da 18ª Bienal de São Paulo: Expressionismo no Brasil, e mostra um artista amadurecido em suas técnicas e cores, dono de um traço fortemente autoral e dinâmico. Pode ser considerada, então, um ponto de virada importante em sua obra, que ecoará por toda a década de 1980.
Série Papeis
No fim dos anos 70, os artistas experimentavam cada vez mais as potencialidades da fotografia e da reprodução de imagens. Polaroides, heliografia, fotocópias, além dos vídeos e computadores. Já utilizando fotocópias em Minha Viagem à Grécia no helicóptero de Leonardo da Vinci, é em 1979, na série Papeis, que vai a fundo na exploração deste meio.
Cacilda Teixeira da Costa2 escreve:
“No final da década de 70, entrega-se à aplicação cada vez mais intensa dos meios tecnológicos de reprodução da imagem. No Research and Service Center, da Xerox, nos EUA, executa uma série de duas mil e cem variações em cor sobre imagens do mercado de capitais brasileiro. Todas as cópias são diferentes quanto às tonalidades, foco e elementos circundantes, ordenadas em cerca de quatrocentas colagens sobre papel, consideradas por ele como um único trabalho. Utilizou meios contemporâneos no sentido de aplicar o mínimo esforço necessário para realizar a verdadeira tarefa artística, decorrente de uma atividade reflexiva tanto mental quanto experimental”.
Os anos 70 marcam uma experimentação constante de Wesley com novas tecnologias e meios, algo que esteve sempre presente na sua obra e atinge uma proporção nova a partir do meio da década de 60, quando começa a realizar os seus ambientes. É na década de 70, porém, que ao mesmo tempo em que busca mais a sua trajetória pessoal e pretende recontar a sua história – utilizando-se de retratos de família para compor a suas obras, por exemplo – que também insere mais elementos fora do padrão artístico, como plantas e vasos, e se apropria de técnicas não muito difundidas ou não consideradas arte, como é o caso da fotocópia.
Notas
- COSTA, Cacilda Teixeira da. Wesley Duke Lee. Rio de Janeiro: Funarte,
(Arte brasileira contemporânea). ↩︎ - COSTA, Cacilda Teixeira da. Curadoria e texto do catálogo da exposição
Retrospectiva Wesley Duke Lee. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo;
Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1992. p.11-34. ↩︎