Anos 1950
Influências e referências artísticas
Wesley iniciou o seu estudo formal de artes plásticas no Curso Livre de Desenho do Museu de Arte de São Paulo em 1951, desde então, começou a desenvolver técnicas e a aprimorar as suas referências. Foi na I Bienal Internacional de Artes Plásticas de São Paulo, também em 1951, que viu pela primeira vez obras de Pollock, Rothko, Mark Tobey, de Kooning, Chastel, Baumeister, Magnelli, Max Bill e Danilo Di Prete.
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De enorme importância para o cenário das artes no Brasil e no mundo, a “I Bienal Internacional de Artes Plásticas de São Paulo” trouxe artistas de grande renome internacional. Nela (Bienal) expressionismo abstrato, concretismo e obras do pós-guerra conviveram com destaques modernistas e de vanguarda, como Portinari, Di Cavalcanti e Picasso.
A década de 50 permitiu que Wesley entrasse em contacto direto com o que era produzido nos Estados Unidos e na Europa e desenvolvesse, a partir da proximidade com o mestre Karl Plattner, a sua mitologia pessoal, que será aprofundada na década seguinte, quando obteve reconhecimento nacional e internacional.
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21 Dezembro, 1931 -12 Setembro, 2010
São Paulo, SP, Brasil
Nova York – Paris (1952-58)
Inspirado por referências mais contemporâneas e tomado pelo espírito efervescente do cenário artístico de São Paulo, Wesley foi, em 1952, estudar na Parsons School for Design em Nova York, onde estudou até 1955.
Em Nova York, presenciou, segundo Cacilda Teixeira da Costa (2010, p. 20), “o início de um movimento de abandono da abstração, embora o expressionismo abstrato ainda seja a tendência dominante”. Num período em que a publicidade e a arte convergiam, Wesley via a publicidade como o meio que lhe traria recursos para poder realizar a sua vocação de artista.
Durante o período que permaneceu nos Estados Unidos, fez visitas constantes ao Metropolitan Museum, estudando arte grega – estátuas, vasos, pinturas, fragmentos, cores. Cacilda Teixeira Costa, no livro Wesley Duke Lee: um salmão na corrente taciturna (2005), escreve:
“Nos três anos em Nova York visitou exposições históricas, como Dada 1916-23, que lhe causou grande impacto (e causou um certo descontentamento). Tomou conhecimento da arte que emergia e teve acesso a catálogos europeus de mostras, como This is promotor, do David Hockney, Allen Jones e outros artistas que produziam e representavam uma figuração original, própria do início dos movimentos pop na Inglaterra e nos Estados Unidos. Conheceu os trabalhos de Rauschenberg num espaço “underground” e visitou a mostra The new decade – 35 American painters and sculptors.
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Plattner: figuração e abstração
Três anos após ir para os Estados Unidos, voltou e começou a trabalhar como publicitário freelancer. Wesley entendeu, desde cedo, que deveria conquistar uma formação tão perfeita quanto possível. Elegeu para tal um sistema de aprendizado clássico – o método Renascentista de formação. Flávio de Carvalho foi uma das suas referências artísticas, pela experimentação, provocação e o desejo de dinamizar o mundo das artes plásticas.
No mesmo ano, o conceituado artista Austro-Italiano Karl Plattner regressou ao Brasil – após ter vivido no Rio de Janeiro por quatro anos, de 1952 a 1954; desta feita instalou-se em São Paulo. Durante quase 10 anos Wesley foi aprendiz, discípulo, assistente, além de manter a ordem e limpeza do estúdio, obedecendo assim à estrita hierarquia do Renascimento.
Ao tornar-se mentor de Wesley, Plattner incluiu no discípulo tendências [da sua arte] que refletiam o padrão europeu da época, como o abandono da abstração em favor da figuração. Plattner dizia que era preciso dominar completamente as técnicas antigas, para então abandoná-las ou incorporá-las e assim conquistar a liberdade contemporânea – algo que condizia perfeitamente com a visão do seu discípulo.
Ao se desligar, o mestre exigiu-lhe um compromisso: deveria formar pelo menos um artista.
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têmpera e folha de ouro s/ papel, 21 x 56,8 cm
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Os Templários e a série do cavaleiro
Foi a partir da metade da década de 50 que o seu interesse pelo medieval e, consequentemente, pela ordem dos Templários se intensificou. Descendente de pais norte americanos (sul dos Estados Unidos) [Lee], e de portugueses, [Oliveira], Wesley descobriu muito cedo que Dom Afonso Henriques conseguira transformar Portugal num reino, graças ao firme apoio militar dos Templários, presentes no país desde 1125, e que estes tinham contribuído para expulsar os mouros.
Wesley Duke Lee era também profundo admirador do Infante D. Henrique, o Navegador, pela criatividade revolucionária, conhecimentos tecnológicos e principalmente pela sua coragem.
Acreditava firmemente no poder iniciático dos Cavaleiros do Templo (ou da Ordem de Cristo), que através da disciplina rígida, era capaz de transformar homens comuns em cavaleiros invencíveis, em seres com poderes especiais. Como anteriormente referido, Wesley viveu esta relação “mestre-discípulo” com Karl Plattner. Mais tarde, replicou-a com aqueles que vieram a ser os seus discípulos na reconhecida Escola Brasil.
Wesley percebeu que tinha metas difíceis e ambiciosas no cenário das artes. Desejou, por exemplo, encontrar passagens secretas que levassem do quotidiano (mundo visível), aos espaços ilimitados (mundo invisível), onde os significados da vida se renovam continuamente.
Para atingir estas metas (ou o poder de expressão desse seu mundo mágico), a partir da década de 50, Wesley vai assumindo alter-egos como Arkadin D’y Saint Amér. Teve também um restrito grupo de amigos que, como ele, acreditavam na visibilidade (existência) daquilo que é considerado invisível.
Baseando-se nas lendas da Ordem dos Cavaleiros do Templo, construiu a sua própria confraria imaginária e esotérica de Templários da arte; durante duas décadas praticou-a intensamente, até à sua maturidade artística, o que aconteceu, simbolicamente, no momento em que concluiu O Enterro do Templário, obra realizada em 1961.
Em 1958, viajou com Plattner para a Europa. Trabalhou com o artista na Itália e frequentou cursos de arte em Paris. Aprofundou os seus conhecimentos sobre os templários.
Na saga dos templários, Wesley descobriu os personagens e as questões que levantaram sobre a religião, a transcendência e o poder político. Tais questões estimularam a sua imaginação e processos criativos.
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nanquim e óleo s/ cartão, 15,5 x 20,5 cm
Na sua saga pessoal, atravessou paisagens, como Castelinho triste (1955); viveu situações ou personificações, como Cirurgião e problemas (1957) e Rei Gonçalves de Lignia (1958) ou como Manhã antes da batalha (1959). Mas outras referências transpareceram, como no Guerreiro indo embora (1960), em que o herói tem dois rostos que se opõem, como o deus romano Jano ou os samurais, que colocavam máscaras atrás da cabeça para confundir o inimigo.
Dando por encerrada a fase do Templário, Wesley disse: “Agora sou um artesão das ilusões”.
Continuou o seu percurso artístico em direção a novas aventuras estéticas, novas etapas da criação artística.
A obra Arkadin D’y Saint Amér, já na década de 60, mostra, dentro do universo do cavaleiro Wesley, os seus traços e as suas cores. A simbologia da obra é tão importante que, em 1969, ela aparece em Arte nos Séculos, edição para Portugal da enciclopédia semanal ilustrada de história da arte, editada pela Editora Abril.
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carvão, pastel, carimbo e montagem c/ acrílico, 88 x 249 cm