Anos 1980
A continuação de Anima: Cartografia Anímica
O trabalho do Wesley, na década de 70, pode dizer-se situado entre a mitologia e a arqueologia, como é visto em O/Limpo e Minha viagem à Grécia no helicóptero de Da Vinci. Com a série Cartografia Anímica, o artista continua a exploração dos redutos de sua alma frente ao mundo, agora utilizando-se da geografia e um dos seus maiores instrumentos: o mapa.
São 48 mapas interpolados com desenhos, frotagem e fotocópias, que levam em conta o cenário político das últimas décadas e tentam promover uma relação de aproximação entre o Ocidente e o Oriente. A livre associação entre os desenhos e lugares se faz muito presente, e é possível perceber motivos recorrentes da obra de Wesley, como a exaltação da feminilidade e a magia.
É na década de 80 também que Wesley continua um trabalho que começou na década de 60, a série Triumpho de Maximiliano. Composto por desenhos a bico-de-pena feitos em 1966 e colagens de 1979, Wesley completa-o com mais desenhos, em 1986. Para além disso são desenhos que envolvem feminilidade, mitologia e referências à história da arte. Pela extensão da sua produção, as obras abarcam as linhas, os desenhos e as experimentações de Wesley de uma maneira contundente. É um grande exercício de produção e um processo poético, perceber como técnicas, aparentemente tão díspares, coincidem na temática e na composição.
O Salto do Xamã
Outra obra que viria explorar a mitologia pessoal do artista é o tríptico O Salto do Xamã, de 1982. Neste tríptico, mais uma vez repetem-se os dois mundos da sua obra – o masculino e o feminino –, onde com muita sabedoria interpreta o Xamã como portador de mensagens do lado misterioso do mundo. Assim, uma transformação se revela ao mesmo tempo no universo feminino. O cavaleiro da década de 60 (e que será retomado nos anos 90) também se apresenta como uma figura xamânica, alguém que mergulhou nas profundezas do inconsciente e de lá ressurgiu, saltando para uma nova realidade – ou ainda
– saltando para transformar uma nova realidade.
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fotos, barbantes, pena, fita adesiva, pastel e acrílica s/ cartão, 77 x 288 cm
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Arte urbana
Em 1983, como forma de chamar a atenção para um empreendimento imobiliário no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, Wesley foi convidado para executar uma obra de arte na fachada do prédio de 18 andares e uma galeria comercial no térreo. Criou, então, dois projetos efémeros: na fachada, riscos provenientes de tubos de néon evidenciam a marca estética do autor, que coloca em diálogo uma coluna grega e uma estrela cadente, nomeando a obra Após Calipso. Já no térreo, construiu Fórum de Ipanema, uma instalação com placas de amianto, ferro e néon que cobriam a entrada da galeria e iam sendo retiradas pouco a pouco, conforme as lojas foram sendo inauguradas. É importante ressaltar que, mesmo sendo um projeto publicitário – e que promoveu uma aproximação com a sua formação académica – Wesley superou essa característica e deu uma forma certamente artística ao projeto.
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O ato de Wesley frente à arte urbana fez com que se aproximasse teoricamente de artistas como Robert Irwin, James Turrell e Scott Burton, porém sem apregoar o minimalismo que abarca a obra destes. A reação mediática em relação aos trabalhos de Wesley foi bem favorável, comprovando o legado do artista, que não deixou de produzir e pensar arte por décadas e décadas.
Retrato de Bardi
Em 1987, realizou o retrato do então presidente do MASP Pietro Maria Bardi. A obra torna-se acervo do museu e será exposta na retrospectiva de Wesley no local, em 1992.
Se os anos 80 não se mostraram tão caudalosos produtivamente, como os anos 60, por exemplo, conseguiram provar a maturidade do trabalho de Wesley. Um artista já depurado, reflexivo, que se utiliza das técnicas não de maneira gratuita, mas sim consciente de suas utilidades dentro do percurso estético do autor.
Os anos 80, ao reforçarem a maturidade artística do Wesley, proporcionam a base para que nos anos 90, composições do começo da carreira viessem de maneira mais decantada e avançassem num projeto estético, como é o caso da emblemática Fortaleza de Arkadin (1990) e das suas últimas grandes séries Os Trabalhos de Eros (1991) e Filiarcado (1999).